quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

(sh!)

As tempestades nascem sempre em agosto.

E só conseguimos dominá-las em meados de fevereiro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Lição à distância de Recife

(para um artista da fome)

Em Recife
as coisas são mais pungentes que aqui
(dentro do meu quarto
dentro
do meu corpo)
são mais pungentes porque mais claras
e claridão
vasta palavra que ilumina
o mundo
e o artista:
viola violão


São mais azuis
as manhãs entregues à ternura
e ao afeto
mas também as tardes
violáceas
como uma estrofe de poema.


E dizia Recife
a cidade envolve o homem
dentro de um ônibus
compondo a música dos dias
e dos anjos
e dos que não tem dias
e dinheiro, e no entanto
seguem tocando a vida
e o vilão
não para ganhar dinheiro
mas pão


Eu não o vejo
(estátua móvel
sob as penas da mente)
não o vejo
roupas sapatos
não vejo seu rosto
exceto esse lampejo de face
a me clarear os olhos
de certo
o mesmo lampejo
que clareou o dia
de quem o viu tocar
numa tarde (que se não fosse isso)
quase banal em Recife.