quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A última conceitual

Eu fico esperando que tua imagem
surja
nos cantos mais escuros e obscuros: fico te admirando
nas entranhas da aurora, quando
ouço
os gases que as manhãs produzem se dissiparem em cores.

Eu fico te vendo e te observando
dentro de mim, como um amuleto que carrego há décadas,
um canivete, uma fotografia três por quatro,
como uma memória escancaradamente escondida nos meus cabelos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ela

As manhãs prostradas em jasmim.
Ouço fundir o ouro de teus cabelos no vento
e a voz a dilatar-se: delato toda minúcia de viver.

Sou o que tenho:
estes pés que partem para um paraíso
estas mãos que manejam frases,
esta tipografia de um corpo a enlouquecer.

domingo, 6 de setembro de 2009

Dominicial: falas

Canto
e é um canto geral
dito aos sussuros, aos berros
um canto que se de dizer fosse em breve
canoro
a cidade o ouviria: canto,
mas é prosa que digo de dentro de caixas
papéis, poemas

Canto
um canto
brasileiro: dito pausado
como se no canto da boca já
escorressem sílabas:
cantar
como cantam os poetas populares
ditos e desditos: façamos a palavra
vibrar nos manifestos, nos monastérios
façamos a palavra
surgir como uma blusa, nas estampas da voz
nos veludos da vida, nas bocas beijadas
na fala popular.

Canta
tua palavra
que não se desgasta em ordem, tempo
canta e diz que de viver a vida
é pouca
quase certa - rouca: quase que fica
nos breves breviários do tempo,
nos solilóquios da alma, nos temporões da calma

Pontuo
teu canto
nos pontos do pêndulo
canta
como se de pender ao lado
já fosse estrada: quem é
não vive,
vive quem está
nos cantos do cantar.