domingo, 29 de novembro de 2009

#1

(com o pensamento em Hölderlin)

fica na fruta
teu gosto
ao mordê-la: casca
que se dissolve.

(ouvindo a manhã
despedaçar-se entre mim,
ouvindo apenas
este rugir de ossos e aços que a aurora
produz: azul)

de poema em poema
faço meu chão, um sulco
na solidão.


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O fio de novembro.

De mãos que se guardam
noutras: comunhão,
fixa idéia de que a vida
vale a pena.

E risco em teu corpo
azul
como o dia que se desfolha para nascer
este novembro
(que há tantos anos escrevi sobre novembro
sobre viver em novembro
sobre viver em)
com um novelo de linhas
risco em teu corpo a forma de minhas mãos.

II

Faço um abrigo em teu peito,
desfio cada novelo de tuas idéias
até ficar este mínimo fio: pólen.

III

O pólen é fruto de trabalho manual:
extraído apenas em novembro,
retira-se do mundo
com o mesmo lampejo de vida que o trouxe.

Amarelado,
infiltra-se na pele: tem a mesma textura
do amor
e do infinito. Feito em fibras, como o ouro
e os tecidos, constitui-se parte de um poema
quando em mãos se vaporiza.

domingo, 15 de novembro de 2009

10/06/2006

Sou eu seu espelho,
a observar a sua intenção
de permanecer só.

Despeça-se,
que
eu me atiro na tarde azul
para acariciá-la sob as nuvens de cetim.

Auroras e edifícios
compõem o nosso amanhecer.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

(...)

"(...) e me repetia solene que as vozes tinham se mudado, alterando para lá e para cá, quando ouvia apenas as sílabas mortas das palavras que continham mofo. Não me importavam aqueles gestos e palavras que insistiam em sustentar a loucura e a palidez do verbo viver.

E o outro, que me ouvia, mais que ativo e voraz, me colava palavras à boca, retinha meus pensamentos aos autos, propunha-se a rasgar minhas idéias e a expô-las, analisá-las. Eu não me pertencia mais: eu era o que me restou.

E escrevi três parágrafos a ele, dedicando toda minha veemência e todo meu torpor deste resíduo líquido: vida."